Com grande experiência no mercado jurídico, Benedito Villela atuou à frente de departamentos jurídicos de importantes organizações no cenário nacional e internacional. Recentemente, deixou a liderança da Cimed Indústria de Medicamentos para assumir o cargo de head of special projects na Laurence Simons, multinacional britânica. Sua trajetória amplamente reconhecida lhe rendeu importantes prêmios, entre eles foi eleito um dos executivos Mais Admirados, no ranking de 2020, do anuário Executivos Jurídicos e Financeiros, da Análise Editorial.
Agência Javali – Você possui vasta experiência em departamentos jurídicos, além de já ter passado também por escritórios de advocacia. Do ponto de vista de um executivo jurídico, qual é a importância da parceria com os escritórios de advocacia?
Benedito Villela: A parceria entre departamentos jurídicos e escritórios de advocacia é fundamental para um departamento jurídico eficiente e para um escritório de sucesso, pois no final do dia, o escritório é uma extensão do departamento e quanto mais alinhados ambos estiverem, melhor é o trabalho.
Agência Javali – Uma dúvida muito comum é: por que alguns departamentos jurídicos preferem internalizar os processos enquanto outros optam por passar as demandas para escritórios? Qual é o fator determinante para tomar essa decisão?
Benedito Villela: Os fatores determinantes para a decisão de internalizar ou terceirizar as demandas podem ser vários: cultura corporativa, origem do capital social, confidencialidade das demandas, volume dos processos, e nível de estratégia envolvido; contudo o mais comum realmente é o custo-benefício: se as empresas tiverem a percepção que a internalização sairá mais em conta, aí considerados as eventuais perdas dos processos, certamente a decisão será pela internalização.
Agência Javali – Existem muitos critérios quando pensamos na contratação das bancas por parte das empresas. Quais são as práticas que as companhias mais valorizam na hora de escolher um escritório?
Benedito Villela: Os critérios mais comuns para definir a contratação são o preço, a reputação do escritório, o grau de especialidade ou comprovada atuação com determinado setor ou demanda, contudo as práticas mais valorizadas costumar ser a afinidade entre o contratante e o executor do serviço, uma vez que um pensamento estratégico alinhado evita surpresas desagradáveis na condução dos processos.
Agência Javali – O preço com certeza é um importante critério. Mas muitas vezes não é decisivo. Frente a outros valores, como estabelecer uma boa comunicação, ter agilidade nos processos, entre outros, qual é o impacto do preço na hora de tomar decisão?
Benedito Villela: O preço sempre será preponderante em empresas que não vem o valor que possuem as demandas jurídicas bem cuidadas, ou quando o preço (e as derrotas) já fazem parte da precificação do produto ou serviço jurídico.
Agência Javali – Nesse sentido, você acha que os departamentos jurídicos estão olhando mais para outros fatores? Ou seja, um escritório pode até ter o menor preço em uma concorrência, mas se ele não tiver outros atributos, os honorários acabam sendo secundários?
Benedito Villela: Cada vez mais os departamentos jurídicos vêm sendo pressionados a realizar suas contratações via departamento de compras ou procurement, contudo são poucos os compradores que conseguem entender que serviço jurídico não é commodity – é quase como achar que é possível tabelar um valor de obra de arte ou de um jogador de futebol, por exemplo. Justamente por isso os jurídicos internos olham cada vez mais para fatores que reforçam os resultados e a eficiência na prestação dos serviços desses escritórios muito além do preço.
Agência Javali – Ainda no contexto das práticas mais valorizadas pelas empresas, qual é a importância da reputação de uma banca?
Benedito Villela: A reputação é proporcionalmente mais importante quanto mais estratégica (e/ou economicamente relevante) for uma causa: contratar um escritório sem reputação para uma causa muito relevante pode acabar com a trajetória de determinado gestor jurídico dentro da organização na qual trabalha, e justamente por isso grandes guias elaborados com metodologias claras e com boa reputação de mercado ganham cada vez mais relevância no ecossistema jurídico interno, como Análise Advocacia, Leaders League, Lacca, Chambers, entre outros.
Agência Javali – Existe preferência pela contratação de grandes escritórios ou bancas de portes médio e pequeno também têm espaço? O tamanho do escritório é importante?
Benedito Villela: Existe espaço para bancas de todos os tamanhos, até por conta das diferentes necessidades, lembrando que o custo da banca, sua localização, mobiliários e conveniências oferecidas para clientes se revertem no custo final, e como acontece em todas as organizações, os departamentos jurídicos são cobrados pelos seus custos e sua eficiência, de forma que a grande banca nem sempre vai ser mais interessante sobre a média e pequena banca.
Agência Javali – O mercado jurídico conta com diversos guias que reconhecem os trabalhos dos escritórios e advogados. Os executivos jurídicos estão atentos a esses reconhecimentos? Faz diferença ter um prêmio na hora de contratar uma banca?
Benedito Villela: Em um universo de quase um milhão de OAB ativas, acabam sendo necessárias formas de distinguir e mensurar os diferentes profissionais. Dessa forma, os executivos jurídicos utilizam esses guias muitas vezes, inclusive para justificar determinadas contratações em estruturas nas quais o jurídico reporta para fora e há forte cultura de Compliance e governança.
Agência Javali – Como as empresas têm avaliado a questão da reputação atualmente, sobretudo ao levar em conta o crescimento do marketing jurídico e a maior presença dos escritórios nos canais digitais?
Benedito Villela: Acredito que o marketing jurídico tem gerado bons efeitos para as empresas quando elas não sabem quem buscar para resolver determinado problema, contudo pela característica tradicional do setor jurídico, será uma mudança gradual.
Agência Javali – Você acha que o marketing das bancas tem atraído a atenção dos departamentos jurídicos? Nesse sentido, quais são as ações dos escritórios que têm ganhado notoriedade?
Benedito Villela: Entendo que as ações dos escritórios que mais chamam atenção dos departamentos jurídicos são os eventos que servem para esclarecer ou apresentar oportunidades que venham a existir por uma mudança ou inovação legislativa ou mesmo por uma decisão, sendo que os cafés da manhã viraram podcasts e webinars em tempos de pandemia.
Agência Javali – A comunicação das bancas com os escritórios, muitas vezes segue de maneira extrema: há escritórios que se comunicam muito, até mesmo em excesso quando falamos de comunicados, e outras que raramente municiam o executivo com informativos, seja sobre aspectos técnicos de interesse do executivo jurídico ou até mesmo com comunicados institucionais.
Na sua avaliação, como é a comunicação das bancas com os departamentos jurídicos? O que o executivo valoriza nesse processo?
Benedito Villela: O executivo jurídico valoriza acima de tudo assertividade: uma comunicação clara, objetiva e dentro das expectativas. Excesso de comunicados invariavelmente gera ao cancelamento dos boletins ou mesmo a inscrição de spam.
Agência Javali – Nós temos uma percepção de que os modelos de contratação de escritórios de advocacia estão mudando e que questões como diversidade tem entrado na pauta. Qual é a importância de os escritórios terem uma equipe diversa e inclusiva? Esses fatores são levados em conta na hora de escolher um escritório ou até mesmo para romper com uma banca?
Benedito Villela: Nos Estados Unidos, esse índice virou uma das formas de classificar os escritórios para a contratação. Enquanto essa tendência não for adotada no Brasil, toda e qualquer valoração de questões como diversidades continuarão sendo aplicadas quando os Conselhos ou Diretores tiverem essa visão, não sendo algo sistêmico.
Agência Javali – Para você, o que significa um escritório alinhado aos novos tempos, com uma prática de uma advocacia moderna?
Benedito Villela: Nada é mais moderno do que entender as necessidades do seu cliente. Nem todo cliente precisa de visual law, mas todos precisam ser compreendidos e bem atendidos.
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