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Como construir uma comunicação inclusiva

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14 de setembro de 2021

Os conceitos de diversidade e inclusão estão cada vez mais presentes nos ambientes corporativos. Isso porque as organizações têm buscado atender as prementes demandas da sociedade, que atentam para a necessidade de contratação e integração de grupos minoritários, como LGBTQIA+, negros e pessoas com deficiência (PCDs), além do fomento ao respeito a diferentes aspectos como idade, status socioeconômico, liberdade religiosa, entre outros. A criação de ambientes diversos, contudo, deve ir além e contemplar, ainda, a instituição de uma comunicação inclusiva.

Com o advento da transformação digital, a maneira como os escritórios de advocacia se comunica com o seu público-alvo foi alterada radicalmente, o que conferiu grandes desafios aos profissionais de comunicação. Mais do que marcar presença em canais digitais, dinamizar e simplificar a comunicação de seus serviços, surgiu, também, a necessidade de atentar para a forma como essa comunicação é estabelecida pelas bancas, de modo a englobar as mais diversas necessidades de seus públicos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), pessoas com deficiência representavam, em 2020, um bilhão do total de 7,7 bilhões da população global. O número expressivo, no entanto, é pouco refletido nas ações de comunicação. Embora exista muito conteúdo disponível digitalmente, sobretudo nas redes sociais, a falta de acessibilidade faz com que nem todos consigam consumir. Ou seja, trabalhar a comunicação inclusiva envolve considerar formatos e recursos para que todas as pessoas possam ter acesso à informação – prática que precisa ser amplamente explorada.

Dicas para criar uma comunicação inclusiva

Cada uma das pessoas se relaciona com o mundo à sua volta de maneira diferente. Por isso, promover o acesso à informação é um dos alicerces da comunicação inclusiva. Para que esta comunicação seja realizada de maneira eficiente é preciso estar atento às particularidades de cada indivíduo. Nesse caso, algumas dicas gerais para incorporar a inclusão ao marketing jurídico são:

  • Acessibilidade Web e Design Inclusivo

O conceito diz respeito a uma série de recursos que possibilita a navegação e interação de PCDs, idosos, daltônicos, pessoas com dislexia, entre outros, na internet. A ideia é que cada usuário possa ter autonomia para navegar em sites, por exemplo. É possível criar páginas que ofereçam descrição de áudio ou de imagens e trabalhar elementos de diferenciação por meio de outros recursos que não apenas as cores, o que facilitará a leitura para daltônicos.

  • Vídeos e Imagens

É importante que as imagens no ambiente digital sejam sempre acompanhadas por legendas e descrição (conhecido como Alt Text). Ao criar uma publicação em uma rede social, por exemplo, é fundamental descrever o conteúdo da imagem ou vídeo para que deficientes visuais possam ter um entendimento do todo. Para isso, trabalhe descrições objetivas e não use o mesmo texto da legenda. Vale ressaltar que as legendas são importantes também para deficientes auditivos no caso de vídeos, que podem contar, ainda, com interpretação em Libras. Vale, ainda, explorar o uso de hashtags, como #PraCegoVer ou #PraTodosVerem. Dessa forma, as hashtags deixam se servir apenas para organizar o conteúdo e facilitar as buscas e passam a servir como ferramenta de inclusão também.

  • Texto e fontes

Seja em um documento, e-book, arte para redes sociais, site ou qualquer outro material, parágrafos muito longos podem dificultar o entendimento de diversas pessoas, sobretudo de usuários disléxicos. Assim, usar mais quebras de texto tornará a leitura mais fluída. Evite utilizar textos justificados também e dê preferência a fontes sem serifa – para alguns usuários, a serifa pode tornar difícil distinguir as letras. Por fim, use caixa alta com moderação, como em chamadas e palavras específicas. Um trecho grande em caixa alta pode fazer com que as pessoas percam o foco da leitura.

  • Cores

Especialmente quando se trata do daltonismo, saber usar as cores de modo que não cause nenhum tipo de desconforto é essencial para uma comunicação inclusiva. Busque por contrastes que garantam uma boa leitura e permitam a visualização de todos os elementos e evite cores como verde e vermelho. Usuários com baixa visão também podem ter dificuldades com cores muito claras, por isso, dê preferência para backgrounds mais escuros.

  • Gráficos

Ao utilizar gráficos e até mesmo infográficos, procure sempre desenvolver um texto descritivo, com detalhes, de todos os dados apresentados, assim como as principais análises que podem ser feitas a partir do gráfico. Nem todos os leitores de tela conseguem relatar de maneira precisa e compreensível os elementos presentes. Por isso, invista na descrição!

  • Emojis

Os emojis estão presentes no dia a dia das pessoas e passaram a ser bastante utilizados por organizações. Em 2015, 12% de todos os tweets possuíam ao menos um emoji. Em 2021, esse número subiu para 20%. Embora seja um recurso que pode ser explorado, é importante ter cuidado quando se trata de comunicação inclusiva. Algumas pessoas têm dificuldade de diferenciá-los e interpretá-los. Por isso, busque usar emojis de compreensão universal, com os quais as pessoas já estão habituadas. Além disso, o recurso nunca deve substituir uma palavra ou uma frase e deve ser usado, preferencialmente, depois do texto. Estar atento aos emojis ajuda pessoas com deficiência visual e com dislexia.

  • Atenção ao X e @

Com o fomento às questões de diversidade se tornou comum utilizar “x” ou “@” em palavras como “todXs” ou “tod@s”. Embora o uso de pronomes neutros seja absolutamente legítimo, na hora de estabelecer uma comunicação inclusiva é preciso estar atento. Essa prática pode trazer mais dificuldades para pessoas disléxicas e deficientes visuais, por exemplo. Dê preferência para o uso da letra “e”: todes. Além de trabalhar a diversidade, respeitando as questões de gênero, você ainda consegue alcançar e incluir todas as pessoas.

A acessibilidade como cultura

Embora a legislação brasileira atue para fomentar a inclusão de PCDs no mercado de trabalho, por meio da Lei de Cotas (Lei 8.213/91) e a Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/15), por exemplo, há, ainda, um longo caminho a ser percorrido. Nesse sentido, para que mudanças realmente possam acontecer é preciso transpor a legislação e atuar para que a diversidade e inclusão sejam pilares do escritório, consolidando-se como elementos essenciais à cultura da banca.

Ou seja, não basta simplesmente contratar, é preciso integrar e incluir, oferecendo todas as ferramentas necessárias – seja para a execução de tarefas ou na adaptação do próprio ambiente – para que colaboradores possam se desenvolver. Além disso, é importante criar comitês para estimular o debate e as ações voltadas à temática, com o objetivo de tornar as equipes e, consequentemente, o escritório mais plural.

De acordo com relatório produzido pelo Capgemini Research Institute, 79% dos consumidores dão preferência para instituições que possuam posicionamento claro acerca de atividades voltadas para a responsabilidade social, inclusão ou impacto ambiental.

Mais do que garantir acesso às populações, geralmente, segregadas, atuar sobre os pilares de inclusão fornece aos escritórios de advocacia a oportunidade de fortalecer suas marcas e construir reputações sólidas no mercado, além, é claro, de contribuir para um ambiente mais inclusivo e socialmente positivo.

A Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS) criou uma publicação com orientação e soluções para desenvolver uma comunicação inclusiva. O material apresenta métodos e processos para a implementação no ambiente de trabalho. Confira o guia aqui.

Confira também os episódios do Juridcast, podcast da Agência Javali:

Recrutamento e seleção como fonte de diversidade e inclusão, com a participação de Glaucia Oliveira, head de Recursos Humanos do Trench Rossi Watanabe

A gestão da cultura nos escritórios de advocacia, com a participação de Ísis Fontenele, fundadora da Performance Juris Consultoria, membro do conselho consultivo da Fenalaw e autora do livro Gestão da Cultura na Advocacia

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