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O Advogado do Amanhã: obra retrata a advocacia do futuro

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3 de agosto de 2021

A advocacia está constantemente evoluindo. Os avanços podem ser percebidos na literatura desde a década de1990, quando o jurista britânico Richard Susskind publicou o The Future of Law, uma das obras mais influentes na área, que introduziu importantes debates no mercado jurídico, até a sequência da publicação, intitulada Tomorrow’s Lawyers: An Introduction to Your Future, que traz insights relevantes e prevê mudanças fundamentais no mundo do Direito.

Baseado nos livros de Susskind, os advogados Bruno Feigelson, Daniel Becker e Giovani Ravagnani desenvolveram a obra O advogado do amanhã, descrita pelos próprios autores como uma versão tupiniquim da publicação de Susskind. O livro conta com uma abordagem multidisciplinar, a partir da realidade brasileira, e destaca, sobretudo, como a tecnologia impactará o meio jurídico.

Segundo a publicação, nos próximos anos, a mudança será maior do que já vimos nos últimos dois séculos, com o futuro da prestação de serviços em um universo de negócios globais e comoditizados, baseados na internet, produção de documentos online, terceirização de processos legais e de práticas de simulação pela web.

As três mudanças

Em Tomorrow’s Lawyers: An Introduction to Your Future, Susskind aborda três mudanças consideradas como radicais no desempenho das atividades advocatícias. Tais mudanças são retratadas com destaque na obra brasileira:

  • Primeira mudança: conhecida como “mais por menos”; diz respeito ao crescimento em uma escala maior e desproporcional das demandas jurídicas se comparadas à disponibilidade e propensão do mercado em pagar por serviços jurídicos;
  • Segunda mudança: considerada extravagante para o modelo brasileiro, é a liberalização da prática jurídica, no movimento conhecido como Legal Services Act, no qual foram criadas as ABSs (Alternative Business Structure), que possibilitaram investimento externo, private equity e venture capital para escritórios de advocacia;
  • Terceira mudança: envolve a utilização da tecnologia. Nesse sentido, Susskind traça críticas ao comportamento cético da maior parte dos advogados, o qual denomina como “irrational rejectionism” – uma dogmática e visceral rejeição de uma tecnologia da qual o cético nem ao menos possui experiência.

O fato é que, independentemente das três mudanças, uma das principais características do movimento de novas tendências na advocacia está associada à revisão dos modelos clássicos de cobrança, como a adoção de arranjos alternativos, intitulados de alternative fee arrangements. Trata-se de um modelo de negócio baseado na premissa de que o serviço deve ser oferecido antes de ser cobrado, de modo a cativar o cliente e fidelizá-lo, tendo em vista a concorrência, a abundância de serviços idênticos e a simetria de preços.

A importância destes arranjos alternativos se dá pela necessidade de munir os clientes com saber jurídico. “Existe um fortíssimo problema a respeito da assimetria de informação no mercado jurídico, onde os advogados detêm um monopólio do saber legal. Munir os clientes de conhecimento jurídico básico pode ser prejudicial à lucratividade que decorre dessa assimetria de informações. No entanto, dar conhecimento básico de Direito ao cliente pode fazê-lo se dar conta de que precisa de assistência jurídica, com a identificação de um problema e, com isso, cria-se uma demanda. É como se o acesso à informação lhe conferisse capacidade de conhecer novos problemas aos quais está sujeito e buscar soluções”, destacam os autores brasileiros.

Além disso, há também consequências ao perfil dos advogados do futuro. Segundo a obra brasileira, eles deverão ser bons gestores e possuir habilidades de marketing, cativando clientes e não ter um, mas os dois pés no empreendedorismo. Daí que a linguagem mais simples, próxima do estilo do mercado do cliente, porém não menos eficiente, em detrimento de jargões.

A advocacia artesanal

De acordo com a obra O advogado do amanhã, boa parte dos serviços jurídicos ainda é realizado de maneira artesanal pelas bancas. Ou seja, profissionais de todos os níveis de senioridade ainda executam tarefas manualmente – o que pode colocar os advogados em uma função abaixo de sua qualificação.

E é justamente neste contexto que a obra reforça a importância da automação e da tecnologia para a advocacia do futuro. “A reformulação na prática do Direito deve passar, basicamente, por dois momentos: o aproveitamento de sistemas de tecnologia da informação e a adoção de novos métodos, processos e noções de gestão, normalmente associadas a práticas empresariais.”

Os escritórios que já abraçaram a transformação digital, e mudaram a forma como os serviços são entregues, constroem um diferencial, sobretudo, estrutural:

  • Não cobram por hora;
  • Não replicam a pirâmide de distribuição de lucros;
  • Não trabalham em grandes edifícios urbanos.

Ao contrário, suas práticas visam o encorajamento da adoção do home office, flexibilização de formas de pagamento, implementação de tecnologias e a promoção de gestão do conhecimento de forma criativa. Essa reformulação permite cobrar menos dos clientes sem reduzir a qualidade da entrega ou, ainda, a sua rentabilidade. Nesse sentido, é importante ressaltar que a geração de valor ocorre pelo contato com ambientes inovadores.

Essa mudança na maneira de atuar pode impactar a forma como as bancas são percebidas pelos departamentos jurídicos. Afinal, o que os executivos esperam dos escritórios? A obra reforça a ideia de que, para além da gestão de documentos e de riscos, os departamentos buscam, especialmente, advogados externos que entendem seu modelo de negócio.

“Basta que os escritórios saiam do automático e enxerguem o cliente como um todo, que deem atenção para toda a sua operação. O advogado externo deve auxiliar o advogado corporativo a tomar decisões e riscos, sem medo de que isso vá abalar a sua reputação perante seu cliente. Se o advogado externo tem medo de expor suas opiniões, fica evidente que não há relação de confiança necessária entre advogado e cliente. A parceria é via de mão dupla. O engajamento gera confiança e decisões acertadas.”

Dessa forma, fica evidente que romper com o modelo tradicional e investir na adoção de tecnologias que coloquem o cliente acima da burocracia cotidiana, de modo que os profissionais possam se debruçar sobre o negócio do cliente e atendê-lo com proximidade e pessoalidade, entendendo suas particularidades – e não mais com uma entrega padronizada a todos os clientes – pode ser o início de uma jornada de sucesso.

Tecnologia e acesso à Justiça

A tecnologia vem ganhando cada vez mais espaço no mercado jurídico. Seja entre os escritórios de advocacia, os departamentos de empresas, os tribunais do país ou até mesmo nas lawtechs e legaltechs. Considerando as diversas inovações no Direito, os conceitos de Visual Law e Legal Design, assim como os contratos inteligentes têm se destacado. Além deles, a reformulação de sites dos tribunais, com informações acerca de processos e outros serviços também têm se popularizado.

Outro importante avanço no universo jurídico de modo geral foi a disponibilização de consultoria legal online. Lawtechs como o Jusbrasil, que traz uma base bastante completa e intuitiva da jurisprudência dos tribunais e conecta advogados com potenciais clientes, bem como o seu o portal Jusbrasil Doutrina – ferramenta que unifica o acesso a obras fundamentais para um entendimento jurídico –, lançado recentemente, e a utilização de chats interativos (chatbots) têm despertado o interesse de profissionais do Direito.

Apesar do avanço, ainda há muita rejeição à inovação por parte de advogados e escritórios. Na obra O advogado do amanhã, os autores definem a interação dos advogados com a tecnologia nos seguintes estágios:

Fase da rejeição – costumam encarar startups de legaltechs com certo desprezo, rejeitando a ideia de que elas poderão de alguma forma ameaçar o seu status quo, roubando receitas ou clientes.

Fase da atenção – é o momento em que os advogados começam a se interessar pelo que as startups estão fazendo. Tentam entender por que elas encantam seus usuários e atraem a atenção da imprensa.

Fase da aproximação – começam a se reunir com startups, frequentar eventos de empreendedorismo e atuar como mentores. Aprofunda-se o conhecimento sobre os modelos de negócios e o mindset das startups.

Fase da interação colaborativa – não há mais dúvidas de que as startups têm potencial de transformação da atividade jurídica. Os advogados passam a dedicar esforços para desenhar uma estratégia para lidar com o ecossistema de startups.

Dessa forma, as etapas demonstram que, mesmo que o Direito esteja inovando cada vez mais, ainda há muita resistência, e denotam um caminho comum à boa parte dos profissionais da área. O desafio, nesse sentido, ainda é muito grande e é preciso que as bancas estejam atentas aos avanços vivenciados pelo mercado para que possam se adequar e modernizar a sua prestação de serviços – seja internamente na revisão de seus processos e até mesmo em suas estratégias de marketing jurídico.

O avanço tecnológico abre frente não apenas para a otimização do tempo e aumento da produtividade e qualidade dos serviços prestados, mas serve, também, como um fomento ao acesso à justiça. Segundo Susskind, “imaginar que só se possa cuidar dos próprios direitos através de advogados e juízes é o mesmo que acreditar que a única forma de cuidar da saúde seja através de médicos.” Ou seja, a adoção de inovações e a reinvenção da advocacia – da adequação de linguagem ao posicionamento do escritório – podem contribuir para a criação de uma advocacia mais plural.

Por fim, a obra traz, ainda, capítulos dedicados aos indicadores que devem estar na pauta de advogados e bancas que desejam se modernizar e, com isso, trazer mais resultados aos negócios.

Você também pode se interessar por: 5 mitos do Marketing Jurídico e Publicidade na advocacia: flexibilização de regras pode se tornar realidade.

Confira, também, o episódio do Juridcast, podcast de marketing jurídico da Agência Javali:

O que os departamentos jurídicos esperam dos escritórios de advocacia, com a participação de Amira Chammas, diretora jurídica, Compliance e governança corporativa da Gramado Parks

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