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Andressa Barros

SER.A.CEO: a importância das mulheres em papéis de liderança no Direito

Por

30 de maio de 2023

Andressa é sócia e CEO do Fragata e Antunes Advogados, com 20 anos de experiência em gestão de grandes volumes contenciosos em diversas áreas. Ela é professora de Noções de Gestão e Metodologias Ágeis na Escola Paulista de Direito e Mestranda em Soluções Alternativas de Controvérsias Empresariais pela Escola Paulista de Direito/SP, 2022. Integrante do Comitê de Relações de Consumo do IBRAC, 2021, e da Comissão de Mediação de Conflitos da OAB/SP. Certificada em Negociações pela Universidade de Michigan, 2020, e em Direito Digital e LGPD pela Future Law, 2019. Pós-graduada em diversas áreas, incluindo Direito Consumidor e Responsabilidade Civil pela Universidade Candido Mendes, 2011, e MBA em Gestão Empresarial e de Negócios pela FGV, 2010, além de ter sido graduada em Direito pela UFRJ em 2000.

Agência Javali – Como surgiu a iniciativa SER.A.CEO?

Andressa Barros: Os escritórios de advocacia são extremamente fechados e imersos em suas crenças e práticas internas. Sabemos que, no Brasil, de 100 postos de CEOs, 17 são ocupados por mulheres, segundo pesquisas recentes. Diante deste contexto, reunimos as fundadoras do projeto, impactadas pela solidão de nossas posições e resolvemos fazer algo para mudar este cenário, buscando criar espaços e uma rede de apoio para mulheres em posições de alta liderança, gerar oportunidades de trocas e desenvolvimento de mulheres que pretendem ser CEOs com foco em geração de negócios e, além disso, ter também um olhar para o social.

Agência Javali – Como a iniciativa SER.A.CEO contribui para a promoção do protagonismo feminino no Direito?

Andressa Barros: O projeto pretende contribuir fomentando boas práticas de governança nos escritórios de advocacia para viabilizar a presença de mulheres na alta liderança. Ainda, pretendemos criar uma comunidade para ter um espaço de troca de experiências entre as mulheres que já ocupam essas posições, inclusive voltada para a geração de negócios. Por fim, queremos que o Projeto SER.A.CEO contribua no desenvolvimento de mulheres que querem ser líderes, com mentorias, em determinados recortes sociais.

Agência Javali – Como as empresas e escritórios de advocacia podem promover a igualdade de gênero?

Andressa Barros: A igualdade de gênero é um grande desafio, e as mulheres advogadas já são maioria na OAB. Ocorre que ainda há muita desigualdade de posicionamento porque as mulheres têm mais dificuldades para ocupar posições estratégicas que os homens. As empresas e escritórios de advocacia precisam conhecer e investir no treinamento de todo o time, de modo a valorizar sempre as habilidades de seus profissionais, independentemente das questões de gênero. Desta forma, sem preconceitos, as mulheres poderão estar nas posições que merecem estar, por suas competências e habilidades, sendo remuneradas igualmente. A luta é para quebrar estereótipos e aniquilar estas percepções que causam tantas desigualdades. A questão agora é cuidar das sutilezas.

Agência Javali – Quais são as iniciativas mais importantes para promover a diversidade e a inclusão no mundo jurídico?

Andressa Barros: É preciso difundir o conhecimento sobre o tema, preparar melhor os times e dar visibilidade e compreensão sobre as questões que fomentam tanta desigualdade. Sobretudo, precisamos de ações práticas dos boards. Os escritórios precisam definir políticas claras que garantam e cuidem das diferenças. Outra iniciativa importante é que os escritórios deem espaço para as mulheres nas cadeiras de tomada de decisão, pois muitas vezes a alta gestão toma decisões que impactarão as mulheres do escritório, sem que elas participem e opinem a respeito. Mais uma iniciativa importante é dar visibilidade para o trabalho realizado por mulheres em projetos relevantes para o escritório perante os clientes, garantindo que elas possam conduzir as reuniões como protagonistas e apresentar os resultados em momentos importantes. Por fim, é importante lembrar que homens são muito importantes neste contexto também.

Agência Javali – Como a tecnologia pode ajudar a promover a igualdade de gênero no mercado jurídico?

Andressa Barros:  A capacidade de analisar dados com mais eficiência e o volume de ferramentas que as novas tecnologias trouxeram para o direito trazem também a multidisciplinariedade e impõe a este mercado jurídico, ainda tão tradicional, por mais incrível que pareça, uma nova forma de olhar para as questões pungentes que temos enfrentado. Igualdade de gênero representa condições iguais para homens e mulheres que realizam as mesmas funções. A tecnologia pode colaborar fortemente na identificação destes pontos de desigualdades.

Agência Javali – Quais são as boas práticas que podem garantir que as mulheres tenham acesso a oportunidade de liderança no mercado jurídico?

Andressa Barros: Reafirmo aqui que esta decisão deve partir de cima. Quando a empresa e o escritório estão determinados a gerar igualdade, espaços precisam ser criados e ocupados por mulheres que poderão dar voz ativa a tantas outras que precisam ser representadas. É imprescindível rever as proporções de mulheres em posições de alta liderança, não apenas para responder “sim” nos relatórios de ESG ou para agradar clientes – o que certamente é sempre percebido pelo mercado – mas efetivamente para dar equilíbrio neste mercado que hoje já está tão feminino, mas ainda muito representado por homens. Para dar acesso é preciso treino e conhecimento. É preciso preparar as mulheres para que possam estar nas posições de comando com todo seu contexto e também é preciso preparar os homens para lidarem com este novo perfil de liderança, muitas vezes inclusive resistindo a aceitar o comando de uma mulher.

Agência Javali – Quais são as mudanças que você mais gostaria de ver no mercado jurídico para promover o protagonismo feminino?

Andressa Barros: Gostaria de ver mais respeito. É difícil entender um mercado onde as qualidades femininas sejam postas como fraquezas. Muitas vezes as próprias mulheres não enxergam isso porque foram treinadas para serem “duronas” se quiserem estar em espaços de comando. As habilidades de um líder independem do gênero, mas o gênero pode fazer diferença na qualidade da entrega e de como um time é conduzido para o resultado. Este é o ponto.

Agência Javali – Na sua opinião, a equidade de gênero é um tema que tem sido abordado e tratado com a devida importância no mercado jurídico?

Andressa Barros: Estamos numa nova fase. Hoje falamos sobre isso abertamente, o que já é um avanço, mas ainda há muito a fazer. Como disse antes, há detalhes importantes, sutilezas, que não são tratados com o devido respeito e que precisam de ajustes. Existem questões grandes, falta de contextualização, níveis de maturidade distintos demais dentro deste mercado para que possamos pensar que estamos perto de garantir igualdade de gênero.

Agência Javali – Como a diversidade e equidade de gênero pode contribuir para o sucesso de uma banca jurídica? Ela pode trazer soluções jurídicas mais eficientes e inovadoras?

Andressa Barros: Com toda certeza. O mundo mudou porque estamos mais conectados e temos trocas com pessoas tão diversas, de culturas diferentes. As mulheres estão mais ativas, não apenas nas posições de BackOffice, estão começando a vir para as mesas de negociação e posições de tomada de decisão. Os rumos mudam quando na liderança há pessoas olhando para todas as pessoas que lidera. Todas. De todo tipo, cultura e gênero. Os negócios mudaram, o mercado como um todo mudou, mais mulheres também no consumo mudam os perfis de negócios, mudam as questões jurídicas e queremos que os escritórios acompanhem isso. Nosso olhar não é direcionado para uma hegemonia feminina, muito pelo contrário. Os assuntos sobre os quais refletimos são sobre o fato de termos tantas mulheres competentes no mercado sem poder de decisão. Por que é tão difícil uma mulher ser respeitada numa mesa repleta de homens? Isto também tem a ver com as questões de gerações, de idade, de tradições. O ponto é que as bancas de escritórios que já possuem este espaço conseguem ter mais unicidade em suas equipes porque o olhar feminino encara as questões emocionais, técnicas, jurídicas todas juntas. As mulheres são muito habilidosas para lidar com questões mais sensíveis que, muitas vezes, foram e são negligenciadas.

Agência Javali – Quais são as principais tendências que você enxerga no mercado jurídico em relação à participação das mulheres em cargos de liderança?

Andressa Barros: Percebo uma tendência de aumento na quantidade de mulheres em cargos de liderança pelo reconhecimento de suas potencialidades e sinto que o mercado está mais aberto a considerar a relevância deste tema, apesar de ainda haver negligência e muito preconceito sobre o tema que precisam ser enfrentados.

Agência Javali – Quais conselhos você daria para mulheres que estão começando suas carreiras no mercado jurídico?

Andressa Barros: Não parem! Preparem-se. Enfrentem os desafios e busquem uma rede de apoio para trocar, elaborar, pensar juntas a melhor forma de conduzir as questões do dia a dia. Fazemos a diferença nos detalhes, então precisamos entender e nos capacitar cada vez mais para que, quando cair todo o preconceito, sejamos, enfim, avaliadas por nossas competências.

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