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Advocacia inclusiva: como utilizar a autodescrição como medida afirmativa

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5 de julho de 2024

A crescente conscientização sobre a diversidade e inclusão está transformando não apenas o cenário social, mas também o panorama profissional, incluindo o campo jurídico. Tornar a advocacia um ambiente mais inclusivo requer o olhar atento a mudanças, como por exemplo na forma de transmitir mensagens. Dessa forma, é essencial que escritórios saibam como utilizar a autodescrição como medida afirmativa.

O que é a autodescrição e por que é importante?

Pensando no contexto do universo corporativo, ao entrar em uma sala, seja esse espaço virtual ou presencial, somos impactados por uma enorme quantidade de estímulos. Para pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência visual, o simples fato de observar os presentes já revela informações que podem ser relevantes.

Se o evento se tratar de uma reunião ou apresentação, por exemplo, é possível fazer o reconhecimento de quantas pessoas estão presentes e de qual maneira se comportam. Esse tipo de percepção possibilita que os indivíduos sintam-se mais envolvidos nas interações, principalmente nos casos em que acontece o networking ou discussões e debates.

Essa é apenas uma situação que demonstra a importância de se ter acesso a recursos visuais. Nesse sentido, a autodescrição como medida afirmativa é fundamental para pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual, já que esse recurso oferece acesso a informações que, de outra forma, estariam indisponíveis para elas.

Na prática, a autodescrição refere-se ao ato de descrever a si mesmo, seja em eventos, conferências, reuniões ou em materiais de marketing. Ter acesso à descrição de características físicas, por exemplo, pode ajudar pessoas com deficiência visual a recordarem e se conectarem com outros indivíduos e a identificá-los em uma reunião posterior.

Dessa maneira, a autodescrição pode ser determinante no momento de tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 7 milhões de brasileiros possuem alguma deficiência visual, e as dinâmicas do mercado, como a falta de medidas inclusivas, são citadas como um dos principais pontos para a falta de sucesso na busca por um emprego.

Ou seja, em um ambiente profissional como o mercado jurídico, onde advogados frequentemente participam de eventos e se apresentam em diversas situações, a falta de uma descrição adequada pode ser um obstáculo significativo para aqueles que dependem de recursos de acessibilidade. Sem a devida informação, a participação plena e igualitária dessas pessoas pode ser comprometida.

Nos últimos quatro anos, a conscientização sobre a importância da diversidade e inclusão tem crescido consideravelmente no meio jurídico. Escritórios de advocacia têm buscado implementar medidas afirmativas, e a autodescrição emerge como uma ferramenta valiosa nesse contexto.

Além da autodescrição, as bancas de advogados têm implementado outras medidas afirmativas para promover a diversidade e inclusão. Isso inclui programas de recrutamento voltados para minorias, treinamentos de sensibilização, a criação de políticas internas que visam a igualdade de oportunidades e a prática da comunicação clara e inclusiva.

Como e quando utilizar a autodescrição?

Ao decidir o que incluir na autodescrição, profissionais do Direito devem considerar a informação relevante para um determinado momento e grupo de pessoas. A escolha de palavras é delicada, não apenas pela representação pessoal, mas também pelo impacto que pode ter na dinâmica de uma reunião jurídica. A construção de um ambiente inclusivo e acolhedor começa com a seleção cuidadosa das informações a compartilhar.

Portanto, no ambiente advocatício, onde a comunicação eficaz determina o sucesso de uma interação, a autodescrição se torna uma ferramenta indispensável em eventos, conferências e reuniões. No entanto, há situações em que a natureza política e pessoal da autodescrição pode ser mais complexa. Em eventos onde a diversidade é limitada, a sensibilidade ao contexto deve ser levada em consideração, e os advogados e advogadas podem optar por não incluir certos detalhes, assegurando que a sua individualidade seja respeitada.

A seguir, alguns elementos-chave para uma autodescrição:

Identidade profissional e gênero: em um ambiente onde a voz pode ser interpretada de maneiras distintas, compartilhar como se identifica e seus pronomes é fundamental.

Experiência e idade: utilizar décadas para indicar experiência profissional e faixa etária, pode ajudar a promover uma comunicação mais acessível.

Deficiência ou neurodivergência: é importante avaliar a relevância da identificação como deficiente ou neurodivergente, especialmente se for algo que normalmente seria notado nesse contexto.

Etnia e cor da pele: a menção sobre a etnia é importante para a autodescrição. Evitar assumir que outras pessoas são caucasianas por padrão é um passo fundamental para a criação de um ambiente mais inclusivo. Também é possível optar por dar uma descrição visual da cor de pele.

Estilo, corte e cor de cabelo: descrever a cor, comprimento e estilo do cabelo de maneira equilibrada ajuda as pessoas a criarem uma imagem mais detalhada do interlocutor.

Roupas e acessórios: a vestimenta também faz parte da identidade, mas é recomendado evitar descrições excessivas. A prioridade é destacar elementos visuais úteis, como padrões, cores vivas ou joias marcantes. No caso de videochamadas, deve-se considerar o impacto visual das vestimentas e o que está no fundo, qual é o ambiente.

Especializações e experiência jurídica: destacar as especializações e experiência de maneira concisa, fornecendo informações relevantes para o contexto jurídico também é uma boa forma de ajudar as pessoas a formatarem uma imagem de quem fala.

Diversidade e inclusão: em um esforço para promover um ambiente inclusivo, é necessário considerar incluir ações afirmativas e iniciativas de diversidade nas quais o advogado ou advogada estejam envolvidos.

Papel e contribuição na reunião: por fim, descrever qual é o papel desempenhado na reunião ou evento jurídico, destacando como a participação pode enriquecer o debate, pode aproximar o interlocutor dos demais indivíduos.

A autodescrição é uma ação simples, mas que pode fazer a diferença. Esse tipo de medida inclusiva tem se tornado padrão por empresas e bancas de advocacia preocupadas em garantir a inclusão e a prática pode ir além da descrição em reuniões e eventos.

O papel da descrição na acessibilidade digital

A implementação de descrições de imagens no contexto jurídico em posts de redes sociais, blogs e sites revela-se não apenas como um compromisso ético, mas também como uma estratégia fundamental para estender a presença digital e promover uma comunicação mais inclusiva.

Ao fornecer descrições detalhadas de imagens em publicações relacionadas ao universo jurídico, os profissionais do Direito garantem que o conteúdo visual seja acessível a uma audiência diversificada, incluindo aqueles com deficiência visual. Isso não apenas está alinhado com os princípios de inclusão, mas também amplia o alcance do conteúdo, permitindo que uma variedade de públicos compreenda e se envolva com informações jurídicas relevantes.

No momento em que o escritório passa a descrever as imagens utilizadas em artigos do site, por exemplo, a otimização para motores de busca é aprimorada, proporcionando uma indexação mais precisa e, consequentemente, uma maior visibilidade nos resultados de pesquisa.

Ao adotar medidas inclusivas na descrição de imagens, os escritórios de advocacia não apenas reforçam sua responsabilidade social, mas também fortalecem sua presença digital, atraindo uma audiência mais envolvida e interessada em acessar informações jurídicas. Essa prática tem o poder de reforçar a reputação ética e contribui para a construção de uma presença online sólida e inclusiva.

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