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O futuro da advocacia: competências e habilidades essenciais

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13 de outubro de 2023

A advocacia é uma das profissões que está em evidente evolução. Mudanças tecnológicas, culturais e sociais estão transformando a forma como os advogados e advogadas prestam serviços jurídicos. Nesse contexto, o Centro de Estudos e Pesquisas em Inovação (CEPI) da Fundação Getulio Vargas (FGV) tem se destacado como uma referência na investigação das implicações da inovação tecnológica no campo jurídico e no futuro da advocacia.

Através de estudos teóricos e empíricos, o CEPI tem contribuído para a compreensão das tendências que moldam a advocacia do presente e do futuro, bem como para o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias para os profissionais do Direito enfrentarem os desafios de uma era cada vez mais digital.

Assim, o estudo “Formando a advocacia do presente e do futuro: habilidades e perspectivas de atuação, destaques e tendências”, realizado pela instituição, por meio de 400 entrevistas, lança luz sobre a interface entre inovação, tecnologia e a prática jurídica.

Integração da tecnologia nos escritórios de advocacia

O estudo apresentado pelo CEPI aborda uma série de questões relevantes sobre a interseção entre o Direito e a tecnologia no contexto brasileiro.

A pesquisa aponta que a tecnologia está sendo amplamente incorporada em escritórios de advocacia de diferentes tamanhos e regiões do Brasil, e as ferramentas tecnológicas estão sendo utilizadas para uma variedade de finalidades, desde a gestão de processos judiciais até a pesquisa por jurisprudência.

A principal motivação para a incorporação tecnológica se dá pelo desejo de modernização das atividades desempenhadas pelo escritório, especialmente em escritórios de grande porte. Além disso, a pesquisa destaca que a pandemia da COVID-19 também teve um impacto significativo, promovendo o trabalho remoto e o uso de ferramentas de comunicação.

O estudo também identificou que novas áreas e funções estão emergindo nos escritórios de advocacia, especialmente em escritórios de médio e grande porte. Áreas como proteção de dados e marketing foram as mais criadas nos últimos cinco anos. No entanto, essa tendência foi menos pronunciada em escritórios menores.

É interessante observar que os escritórios localizados nas regiões Nordeste (62%) e Sudeste (55%) são os que mais criaram novas áreas.

Novas áreas criadas nos últimos 5 nos pelos escritórios da amostra:

Novas áreas criadas nos últimos 5 nos pelos escritórios da amostra

Novas áreas criadas nos últimos 5 nos pelos escritórios da amostra

Competências e habilidades essenciais

O estudo também investigou sobre as competências e habilidades essenciais de acordo com os entrevistados.

As competências jurídicas continuam sendo consideradas as mais importantes, seguidas pelas competências de gestão, socioemocionais e tecnológicas. Surpreendentemente, as competências tecnológicas foram classificadas como menos relevantes, apesar da crescente adoção de tecnologia.

Já sobre as lacunas na formação jurídica, a pesquisa aponta brechas na formação básica dos advogados, com ênfase na falta de conhecimento jurídico e atualização. Também foi observada a necessidade de competências socioemocionais e de gestão.

Nesse sentido, o estudo sugere a necessidade de estratégias de formação e treinamento para abordar essas deficiências.

Percepção do estudo sobre habilidades necessárias e escassas

Percepção do estudo sobre habilidades necessárias e escassas

Percepção do estudo sobre habilidades necessárias e escassas

Processos de contratação e expectativas para o futuro

Além de apontar para a necessidade de ajustes na formação jurídica, a pesquisa também analisa os processos de contratação nos escritórios de advocacia e destaca a importância da análise de currículo, entrevistas individuais e indicações por contatos de confiança.

Alguns fatos que demonstram preocupação entre os entrevistados no momento da contratação é a distância existente entre os ensinamentos da faculdade e a prática profissional da advocacia, além da defasagem em relação à administração de escritórios, marketing, e a falta de compreensão da advocacia enquanto negócio.

Em segundo plano, o estudo também aborda a percepção do mercado sobre advogados recém-formados, indicando que o conhecimento em tecnologia é bem avaliado, mas o conhecimento jurídico pode ser um ponto fraco.

Já em relação às expectativas para o futuro, a grande maioria dos entrevistados acredita que a tecnologia terá um grande impacto nos escritórios de advocacia nos próximos cinco anos e que isso será um critério diferencial no mercado jurídico.

Impactos da tecnologia na advocacia

Impactos da tecnologia na advocacia

Impactos da tecnologia na advocacia

Mapa de competências e habilidades para a advocacia do presente e do futuro

Nesta etapa da pesquisa, os autores exploram diferentes perspectivas sobre as habilidades e competências necessárias, incluindo conceitos como soft skills (qualidades intangíveis), hard skills (conhecimentos técnicos), competências cognitivas, instrumentais e interpessoais, entre outros.

O estudo identifica quatro eixos de competências essenciais para os profissionais da advocacia:

  • Competências jurídicas: Este é o núcleo essencial, que envolve o domínio do conhecimento técnico-teórico do Direito e as habilidades relacionadas à prática jurídica. Essas competências são a base sólida sobre a qual um advogado constrói sua carreira.
  • Competências de gestão: A gestão eficaz é cada vez mais importante para escritórios de advocacia. Tomar decisões estratégicas, administrar recursos e definir estratégias organizacionais são aspectos cruciais do sucesso na advocacia moderna. Isso ressalta a importância da profissionalização dos escritórios.
  • Competências tecnológicas: O uso de tecnologia se tornou indispensável na prática jurídica contemporânea. Isso inclui o domínio e o uso eficaz de ferramentas e soluções tecnológicas para melhorar a eficiência e qualidade dos serviços legais.
  • Competências socioemocionais: As habilidades interpessoais, emocionais, comunicacionais, éticas, culturais e comportamentais desempenham um papel crítico na advocacia. Elas são fundamentais para construir relacionamentos sólidos com os clientes e colegas, bem como para lidar com questões éticas e culturais complexas.

Detalhamento das competências segundo os eixos da análise

Detalhamento das competências segundo os eixos da análise

Detalhamento das competências segundo os eixos da análise

Os autores também mencionam vários modelos de competências para profissionais jurídicos, como o modelo I, modelo T, modelo W, modelo pirâmide, modelo Delta e modelo O, que enfatizam diferentes dimensões de habilidades.

Modelo I e Modelo T:

O Modelo I refere-se ao advogado que se especializa profundamente em uma única área do Direito. No entanto, o estudo aponta que esse modelo tem dado lugar a outros, como o Modelo T. Nesse modelo, a barra vertical do “T” representa um profundo conhecimento em uma área jurídica específica, enquanto a barra horizontal representa um conhecimento amplo, embora não tão profundo, em outras áreas, como gerenciamento de projetos e proteção de dados.

Modelo W:

Esse modelo se baseia em um estudo realizado pelo Institute for the Advancement of the American Legal System, da Universidade de Denver, nos Estados Unidos. Ele identifica características, competências profissionais e competências jurídicas esperadas de “todo advogado”. Isso inclui habilidades além das tradicionalmente jurídicas, como sociabilidade, integridade, resiliência e competências profissionais relacionadas à eficácia no trabalho e trato com outras pessoas.

Modelo Pirâmide:

Proposto pela professora Michele DeStefano, esse modelo se baseia nas habilidades desejadas pelos clientes. Ele coloca as habilidades jurídicas na base da pirâmide, seguidas por habilidades concretas, organizacionais, relacionadas à tecnologia e, no topo, habilidades relacionadas à inovação. O modelo demonstra que as habilidades de inovação são altamente valorizadas, mas também raras entre os profissionais do setor jurídico.

Modelo Delta:

Esse modelo representa diferentes dimensões de competências em um triângulo: Direito, eficácia pessoal e negócios e operações. Cada dimensão abrange diferentes habilidades, como conhecimento jurídico, habilidades pessoais de gestão e habilidades relacionadas a negócios e operações. O ponto onde essas dimensões se encontram varia de acordo com a carreira e a área de atuação do profissional.

Modelo O:

O advogado em formato de O resulta na importância de combinar competências técnicas com habilidades humanas, especialmente aquelas relacionadas à inteligência emocional. Esse modelo enfatiza habilidades como abertura para assumir riscos, busca por oportunidades, criatividade na resolução de problemas, consciência, domínio e responsabilidade pelo trabalho, e colaboração com clientes.

O debate sobre o futuro da advocacia

Um ponto notável da pesquisa foi a constatação de que as competências de gestão ganharam destaque, indicando uma crescente profissionalização dos escritórios de advocacia.

Isso tem implicações diretas no marketing jurídico, uma vez que a gestão eficaz é essencial para criar estratégias de marketing bem-sucedidas e garantir a entrega de serviços de qualidade aos clientes.

Outro aspecto importante que emergiu da pesquisa foi a necessidade de as instituições de ensino jurídico prepararem os futuros advogados com competências adequadas a esse novo cenário.

Os respondentes da pesquisa destacaram que muitos advogados, embora bem qualificados em competências jurídicas tradicionais, frequentemente carecem de habilidades em outros domínios, como gestão e tecnologia. Portanto, a formação jurídica precisa se adaptar para fornecer uma base mais ampla de habilidades.

As competências socioemocionais, por exemplo, desempenham um papel fundamental na construção da confiança do cliente e na manutenção de uma reputação positiva, fatores determinantes no momento de consolidar um escritório líder no mercado jurídico.

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